A inflamação no intestino delgado desempenha um papel crítico na manutenção da saúde e integridade do revestimento intestinal, o que é essencial para a absorção e digestão adequadas de nutrientes. A resposta inflamatória ajuda a remover bactérias, vírus e toxinas prejudiciais que podem estar presentes no intestino e ajuda a reparar o tecido danificado.
A inflamação crônica ou excessiva pode ter efeitos negativos no intestino delgado, levando à doença inflamatória intestinal (DII), em que o sistema imunológico do corpo ataca erroneamente o revestimento intestinal, causando inflamação crônica e danos ao tecido. Embora existam alguns tratamentos para DII, incluindo medicamentos e mudanças no estilo de vida, não há curas conhecidas.
A psilocibina é uma substância alteradora de estados de consciência encontrada em certas espécies de cogumelos que tem sido estudada por seus potenciais efeitos terapêuticos bem estudados em certas condições de saúde mental. Em outros aspectos, embora seus efeitos não sejam totalmente compreendidos, algumas pesquisas evidenciam que a psilocibina pode ter efeitos anti-inflamatórios.
Quando consumida, ela é convertida em psilocina no corpo, que atua em vários receptores de serotonina no cérebro. A psilocina atua, principalmente, nos receptores 5-HT2A, que são um subtipo de receptores de serotonina, que estão envolvidos na regulação do humor, percepção e cognição.
Um estudo da Cell Biologics, Chicago, descobriu que a psilocibina reduziu a inflamação no cérebro de ratos ao diminuir a atividade de certas células imunes chamadas micróglia.
Recentemente, a administração oral de psilocibina in vivo melhorou a inflamação induzida no cérebro e os efeitos anti-inflamatórios da psilocibina, sugeriram que pode ter potencial como um agente terapêutico, para uma série de condições caracterizadas por inflamação no corpo ou no cérebro.
Células epiteliais do intestino delgado humano saudáveis (HSIEC) foram cultivadas em um kit de meio de célula epitelial humana completa. Todas as células foram incubadas a 37 °C em uma atmosfera umidificada de 5% de CO2, dentro da incubadora de CO2, no laboratório BSL-2 na Universidade de Lethbridge.
Os meios de cultura de células foram reabastecidos a cada três dias enquanto eram subcultivados a 80% de confluência. As HSIEC foram tratadas com o reagente de remoção de micoplasma.
A combinação de psilocibina não apresentou efeitos citotóxicos, mas demonstrou efeitos pró-proliferativos, aumentando significativamente a viabilidade de células epiteliais do intestino delgado humano, tratadas com 4-AcO-DMT combinado com ligantes de canal de potencial receptor transitório.
Neste experimento, investigou-se o impacto das combinações de psilocibina nos níveis de proteína de COX-2, com o objetivo de elucidar os efeitos anti-inflamatórios de ligantes comuns do receptor 5-HT2A, incluindo psilocibina e 4-AcO-DMT.
É importante ressaltar que a psilocibina e a forma sintética da psilocibina, 4-AcO-DMT, demonstraram efeitos pró-proliferativos consistentes e independentes da dose, sendo este, o primeiro estudo a demonstrar esse efeito em células intestinais ou epiteliais para psilocibina ou 4-AcO-DMT.
Extratos inteiros de cogumelos contendo psilocibina foram testados e demonstraram reduzir as respostas inflamatórias induzidas em macrófagos. Devido à grande mudança nos níveis de COX-2 e nenhuma toxicidade detectada, a psilocibina parece ser um anti-inflamatório terapêutico eficaz.
Embora o estudo não tenha testado a psilocibina sozinha, mas sim um extrato que continha psilocibina e múltiplos compostos, a psilocibina foi provavelmente o composto responsável por esses efeitos, devido à presença de receptores 5-HT2A em macrófagos, o que sugere que a psilocibina pode inibir fortemente a inflamação no epitélio intestinal.
A psilocibina atua em diferentes receptores e acredita-se que tenha diferentes transduções de sinalização, o que poderia explicar suas ações sinérgicas para reduzir a produção de citocinas pró-inflamatórias. A psilocibina atua principalmente por meio do receptor 5-HT2A, suprimindo assim a produção de quimiocinas em subconjuntos mieloides.
Devido a esses diferentes mecanismos anti-inflamatórios, não é surpreendente que a psilocibina possam ter efeitos anti-inflamatórios potentes e sinérgicos.
Existe uma preocupação legítima em utilizar psicodélicos como agentes anti-inflamatórios devido aos efeitos da psilocibina e 4-AcO-DMT, além de que a microdosagem se tornou um fenômeno cada vez mais comum, pelos seus efeitos benéficos, sem quaisquer efeitos alucinógenos típicos e efeitos colaterais mínimos.
A dose necessária de psilocibina pode ser potencialmente reduzida a subalucinógena, ao mesmo tempo em que aumenta a janela terapêutica e ainda induz efeitos anti-inflamatórios semelhantes, em comparação à psilocibina sozinha.
Embora o uso infrequente de psilocibina tenha se mostrado seguro, quando usado em um ambiente controlado, os efeitos de longo prazo de doses subalucinógenas frequentes, conhecidas como microdosagem, não são conhecidos. Em contraste, os benefícios são consistentemente mostrados com grandes tamanhos de amostra.
Referências
Robinson, G.I., et al. Anti-inflammatory effects of serotonin receptor and transient receptor potential channel ligands in human small intestinal epithelial cells. Current Issues in Molecular Biology, 45(8), 2023.