A etilamida do ácido lisérgico, mais conhecida como LSD, há muito é reconhecida como um poderoso alucinógeno serotoninérgico, ou seja, um “psicodélico” capaz de alterar a consciência de maneira notável e única. Seu intrigante perfil psicoativo foi inicialmente explorado em 1943 pelo químico suíço Albert Hofmann, que, em um autoexperimento corajoso, ingeriu 250 µg da substância. O relato inicial de Hofmann descreveu uma experiência desconfortável, permeada por percepções alteradas, medo e paranoia. Surpreendentemente, seu estado mental no dia seguinte revelou uma sensação de bem-estar e renovação.
Quando o LSD foi inicialmente distribuído em 1948, suas aplicações eram diversas, com ênfase em psicoterapia analítica e estudos experimentais sobre psicoses. Esse período de pesquisa intensiva nas décadas de 1950 e 1960 foi interrompido devido a pressões políticas, mas o ressurgimento da pesquisa com substâncias psicodélicas destaca propriedades paradoxais semelhantes às descritas historicamente com o LSD.
Um estudo, publicado pela Cambridge University Press, explorou os efeitos agudos e de “médio prazo” do LSD em voluntários saudáveis. Conduzido como um ensaio controlado por placebo, seguindo um desenho cruzado equilibrado em termos de ordem, o estudo recrutou 20 voluntários saudáveis por meio de recomendações pessoais. A pesquisa recebeu aprovação do Comitê NRES de Londres – West London e foi conduzida em conformidade com as Boas Práticas Clínicas, o NHS Research Governance Framework e padrões éticos da Declaração de Helsinque.
Durante três visitas de estudo, os voluntários foram submetidos à triagem e a duas sessões de dosagem, separadas por um intervalo mínimo de 2 semanas. A ordem de administração de LSD foi equilibrada entre os participantes. As avaliações subjetivas foram preenchidas eletronicamente e enviadas aos pesquisadores por e-mail, revelando dados que sustentam a hipótese inicial de efeitos positivos a longo prazo no bem-estar psicológico.
Ao examinar os efeitos agudos do LSD, as pontuações indicaram sua natureza psicotomimética, superando até mesmo substâncias comparáveis em estudos anteriores. Contrariamente às expectativas, os participantes predominantemente experimentaram humor positivo durante as sessões de LSD, apesar de alguns apresentarem fenômenos psicóticos.
O estudo destaca a complexidade da relação entre os efeitos agudos psicotomiméticos e os benefícios psicológicos a longo prazo do LSD. A ação no receptor 5-HT2AR é apontada como crucial, promovendo uma cognição entrópica que pode explicar a coexistência de aspectos positivos e negativos do estado psicodélico. Essa descoberta ressalta a necessidade de investigações mais aprofundadas na neurobiologia subjacente aos efeitos do LSD, abrindo caminho para uma compreensão mais abrangente dessas propriedades paradoxais.
Em resumo, os efeitos psicológicos do LSD são multifacetados e desafiadores, apresentando uma série de paradoxos que continuam a intrigar pesquisadores e usuários. A natureza única dessas experiências destaca a necessidade de uma compreensão mais aprofundada dos mecanismos subjacentes aos efeitos do LSD, contribuindo para o crescente campo de pesquisa em psicodelia.
Fonte: DOI