Um estudo publicado no periódico European Psychiatry evidenciou uma abordagem não convencional para gerenciar sintomas associados ao Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
As descobertas sugerem que doses pequenas e repetidas de substâncias como psilocibina e dietilamida do ácido lisérgico (LSD) podem, potencialmente, ajudar a reduzir os sintomas do TDAH e melhorar alguns aspectos da regulação emocional.
Essas descobertas podem abrir caminho para novos tratamentos que se concentrem, não apenas nos sintomas primários do TDAH, mas também, na melhoria do funcionamento emocional e social.
O TDAH é tipicamente marcado por desatenção, hiperatividade e impulsividade. Além desses sintomas primários, muitos indivíduos com TDAH lutam com regulação emocional e empatia, o que pode prejudicar suas interações e relacionamentos sociais.
Embora medicamentos convencionais para TDAH, como anfetaminas e metilfenidato, atinjam efetivamente os sintomas principais, geralmente não conseguem lidar com esses problemas secundários. Curiosamente, alguns adultos com sintomas graves de TDAH recorreram à microdosagem, tomando doses mínimas de psicodélicos, como auto tratamento.
Os principais sintomas do TDAH (desatenção, hiperatividade, impulsividade) são conhecidos e podem ser muito debilitantes, no entanto, menos conhecido é que adultos com TDAH sofrem de problemas com a regulação emocional.
O estudo realizado no Departamento de Neuropsicologia e Psicofarmacologia Ontdek Maastricht University, Holanda, sugeriu que a regulação emocional deve ser considerada um componente central do TDAH, pois é vivenciada por até 70% dos adultos com TDAH.
A regulação emocional envolve todas as tentativas de influenciar a experiência e as respostas emocionais, a capacidade de reinterpretar uma situação que provoca emoção (reavaliação cognitiva) e, também, a inibição de respostas emocionais positivas e negativas fortes (supressão expressiva).
Os pesquisadores conduziram dois estudos para investigar o impacto da microdosagem psicodélica em adultos com sintomas graves de TDAH: o primeiro estudo incluiu participantes que tinham um diagnóstico formal de TDAH ou apresentavam sintomas graves indicativos do transtorno.
Os indivíduos participaram por iniciativa própria, decidindo quando e como microdosar. Os pesquisadores coletaram dados usando uma série de pesquisas on-line que os participantes completaram na linha de base (antes de começar a microdosagem) e, novamente, duas e quatro semanas após o início do regime de microdosagem.
Essas pesquisas incluíram escalas validadas como a Conners’ Adult ADHD Rating Scale para avaliar sintomas de TDAH, o Emotion Regulation Questionnaire para medir estratégias como reavaliação cognitiva e supressão expressiva, e o Interpersonal Reactivity Index para avaliar diferentes facetas da empatia.
Os resultados indicaram que, após quatro semanas de microdosagem, os participantes relataram melhorias significativas em certos aspectos da regulação emocional e da empatia. As pontuações para reavaliação cognitiva aumentaram, sugerindo que os participantes foram mais capazes de reinterpretar situações estressantes ou emocionais de uma forma que reduziu seu impacto negativo.
Da mesma forma, as pontuações para supressão expressiva diminuíram, indicando uma redução no esforço para inibir respostas emocionais, o que pode sugerir uma expressão e processamento emocional mais saudáveis.
Além disso, as pontuações para tomada de perspectiva melhoraram, o que implica uma capacidade aprimorada de entender os pontos de vista dos outros. No entanto, as mudanças em outras áreas da empatia, como preocupação empática e sofrimento pessoal, não foram significativas, sugerindo que os efeitos da microdosagem podem ser mais pronunciados em aspectos cognitivos da empatia do que emocionais.
O segundo estudo introduziu um grupo de controle para uma comparação mais rigorosa. Este grupo consistia em indivíduos com TDAH que não estavam microdosando, mas continuavam seus tratamentos habituais de medicamentos para TDAH.
Os pesquisadores coletaram dados nos mesmos três pontos de tempo, usando as mesmas pesquisas e escalas que foram usadas no primeiro estudo. Eles compararam 180 participantes que estavam apenas microdosando, com conclusões de avaliação por 50 e 38 participantes nas marcas de duas e quatro semanas, a um grupo de controle de 37 indivíduos usando medicamentos convencionais para TDAH, com 27 e 28 completando os acompanhamentos de duas e quatro semanas, respectivamente.
Essa abordagem comparativa forneceu uma visão mais clara de como a microdosagem se compara aos tratamentos tradicionais. As descobertas revelaram que o grupo de microdosagem experimentou uma redução mais significativa na gravidade dos sintomas de TDAH, em várias medidas, em comparação ao grupo de controle.
Isso incluiu pontuações para desatenção e hiperatividade/impulsividade, que são tradicionalmente alvos de medicamentos para TDAH e, ao comparar mudanças na regulação emocional e empatia, os resultados foram mistos. O grupo de microdosagem mostrou melhora contínua na supressão expressiva, semelhante ao primeiro estudo e controle após o período do estudo. Isso sugere que, embora a microdosagem possa ajudar a reduzir a necessidade de suprimir emoções.
Essas descobertas sugerem que a microdosagem pode, potencialmente, oferecer alguns benefícios, em relação aos medicamentos tradicionais, particularmente, na redução dos sintomas de TDAH e na melhora de certos aspectos da regulação emocional.
Na comparação entre indivíduos com TDAH, que estavam fazendo microdosagem, com indivíduos com TDAH, que estavam usando medicação convencional para TDAH, descobriu-se que a microdosagem, comparada à medicação convencional para TDAH, induziu efeitos positivos nos principais sintomas de TDAH e em um aspecto da regulação emocional, a supressão expressiva, o que pode indicar uma regulação emocional melhorada após quatro semanas de microdosagem em comparação à linha de base.
A reavaliação cognitiva é outro aspecto de regulação emocional avaliado e todas as facetas de empatia, permaneceram inalteradas após a microdosagem. Destacaram-se as potenciais propriedades terapêuticas da microdosagem em adultos com TDAH, enfatizando a importância de um grupo de controle. A microdosagem é uma opção alternativa útil para adultos com TDAH por meio de ensaios clínicos controlados.
Referências
Kuypers, KP. Microdosing psychedelics in the treatment of ADHD and comorbid disorders. European Psychiatry , v. 67. Ed. S1, 2024, pp.S7-S8.