POTENCIAL EFEITO DOS PSICODÉLICOS NA SAÚDE MENTAL DO ADOLESCENTE

Dentro da psicologia do desenvolvimento, a adolescência é contextualizada como o momento em que a formação da identidade torna-se o foco de preocupação, ocorrida aproximadamente, entre as idades de 12 a 18 anos, podendo estender-se até a fase adulta, por volta dos 25 anos. 

Sob a perspectiva neurobiológica, a adolescência é um período crucial de plasticidade neurodesenvolvimental entre as idades de 10 a 24 anos, caracterizada por mudanças estruturais e funcionais significativas no cérebro. 

Enquanto os sistemas límbico e de recompensa e os processos puberais amadurecem completamente, áreas-chave como o córtex pré-frontal (envolvido na tomada de decisões, controle de impulsos, planejamento e regulação emocional) levam vários anos para se desenvolverem completamente, continuando além dos 20 anos. 

O cérebro adolescente é altamente maleável e ocorre importante desequilíbrio de desenvolvimento entre a puberdade e o início da fase adulta, identificados no comportamento, na cognição e na emoção. Isto leva a uma maior vulnerabilidade às mudanças de desenvolvimento cognitivo e aos comportamentos de risco, deixando “janelas de oportunidade” para o surgimento de problemas de saúde mental, bem como sintomas psicopatológicos, pensamentos e comportamentos suicidas, que são conhecidos por contribuir para a deficiência global dos jovens. 

Em geral, a pesquisa controlada sobre os efeitos dos psicodélicos antes da idade adulta é extremamente escassa. Apenas um pequeno número de estudos iniciais relataram efeitos benéficos do LSD e da psilocibina, em crianças e adolescentes com idades entre 8 e 18 anos, especialmente aqueles com diagnósticos de autismo e esquizofrenia (por exemplo, melhorias em sintomas como alucinações e distúrbios de humor, e habilidades de comunicação e funcionamento social aprimorados).

Mais recentemente, um estudo seccional transversal de adolescentes (idades 16,52 ± 1,34) que usaram ayahuasca no contexto de grupos religiosos no Brasil não mostrou sinais de anormalidades neuropsicológicas, ao mesmo tempo em que apresentaram menos sintomas psiquiátricos em comparação aos resultados dos controles da mesma idade. 

Alguns pesquisadores postularam que os psicodélicos poderiam ter aplicações úteis entre adolescentes com TEPT grave, depressão resistente ao tratamento e ansiedade social causada pelo autismo, bem como em cuidados paliativos pediátricos. 

No entanto, tem havido bem pouca investigação sobre o uso de substâncias psicodélicas entre os jovens, com muitos investigadores a apelar à cautela, especialmente no que diz respeito ao modo como as substâncias psicodélicas podem impactar o cérebro em desenvolvimento. 

Grande parte da pesquisa disponível sobre psicodélicos e juventude remonta as décadas de 1960 e 1970, quando muitos dos métodos usados não seriam eticamente corretos hoje.

No entanto, com os Estados Unidos potencialmente prestes a aprovar psicodélicos para o tratamento de doenças mentais entre adultos, as empresas farmacêuticas tendem, em breve, a demonstrar interesse em iniciar testes envolvendo adolescentes.

O FDA tem autoridade para exigir estudos pediátricos quando novos medicamentos são aprovados para a população adulta. As empresas são solicitadas a fornecer um plano para o desenvolvimento de medicamentos pediátricos, em no máximo 60 dias após as reuniões de final da fase 2, disse ela. 

Embora tenha acrescentado que há certas circunstâncias em que as empresas podem atrasar o desenvolvimento desses planos, em geral, elas devem planear os seus programas pediátricos, mesmo antes de iniciarem os estudos de fase 3.

Não é suficiente reconhecer que os psicodélicos têm potencial terapêutico. É necessário adotar uma abordagem realmente cautelosa em termos de design de estudo e critérios de inclusão e exclusão. 

As diretrizes sobre pesquisa psicodélica recomendam que indivíduos com histórico pessoal ou familiar de transtornos psicóticos ou bipolares sejam excluídos da participação em ensaios clínicos. 

Existem preocupações de que um histórico pessoal ou familiar destas condições possa elevar o risco de episódios psicóticos ou maníacos, após a administração de substâncias psicodélicas, mas a exclusão de tais indivíduos dos ensaios clínicos de terapia assistida por substâncias psicodélicas, também limita a possibilidade de quantificar os riscos psiquiátricos.

A pesquisa sobre o uso de psicodélicos em crianças e adolescentes apresenta desafios complexos e uma variedade de riscos potenciais. Os clínicos e as autoridades reguladoras trabalham juntos para desenvolver essas novas terapêuticas de maneira que possam ser aproveitadas adequadamente. 

O uso de dietilamida do ácido lisérgico (LSD) aumentou entre adolescentes nos EUA. Embora existam evidências de que o LSD e outros agonistas psicodélicos 5HT2AR, como a psilocibina, possam ser relativamente seguros em ambientes controlados, sabe-se pouco sobre os riscos associados ao uso naturalista de psicodélicos, especialmente entre adolescentes. 

O tratamento com drogas psicodélicas representa uma mudança de paradigma na abordagem da saúde mental e, após o ajuste para uso de outras drogas, o uso naturalista de psicodélicos pode estar associado a menores taxas de sintomas psicóticos entre adolescentes. 

Referências

IZMI, Nadhrah; CARHART-HARRIS, Robin Lester; KETTNER, Hannes. Psychological effects of psychedelics in adolescents. Frontiers in Child and Adolescent Psychiatry, v. 3, p. 1364617, 2024.

https://doi.org/10.3389/frcha.2024.1364617

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