As pesquisadoras da Johns Hopkins, Natalia Gukasyan e Sasha Narayan, apresentam três estudos de caso de mulheres que afirmam que os psicodélicos alteraram seus ciclos menstruais. Uma delas mencionou que sua menstruação parou, mas recomeçou após consumir psilocibina e um componente da ayahuasca. Outra relatou que, após uma experiência com LSD, seu ciclo irregular tornou-se regular. Uma terceira afirmou que uma pequena dose de psilocibina antecipou sua menstruação em oito dias.
Jennifer Chesak, autora de “The Psilocybin Handbook for Women”, examina estudos de caso e evidências anedóticas que apontam para possíveis benefícios da psilocibina na regulação de ciclos menstruais irregulares. Chesak destaca ainda a potencial eficácia da psilocibina no tratamento de condições como transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM), endometriose e enxaquecas menstruais. Ela expressa gratidão pela pesquisa de estudo de caso conduzida pelas investigadoras Gukasyan e Narayan, que exploraram como os psicodélicos podem afetar o ciclo menstrual. Chesak ressalta a necessidade de mais pesquisas, apesar de indicativos de que a psilocibina pode ajudar a regular o ciclo menstrual quando irregular.
A influência dos níveis de estrogênio nos locais de receptores 5-HT2A, principais alvos da psilocibina, é destacada. Estudos sugerem que o estrogênio pode aumentar a densidade desses locais em áreas específicas do cérebro, relacionadas à regulação do humor, estado mental, emoção, cognição e comportamento. No entanto, apesar de indícios de que hormônios sexuais podem desempenhar um papel nas respostas à psilocibina, é crucial uma pesquisa científica mais aprofundada sobre esse tópico.
O estudo analisou os efeitos de psicodélicos clássicos na função menstrual e reprodutiva, indicando que a psilocibina pode alterar o ciclo menstrual e até reverter casos de amenorreia. Contudo, o estudo, baseado em uma pequena série de casos, ressalta a necessidade de mais pesquisas para compreender plenamente os efeitos da psilocibina no ciclo menstrual.
Os cogumelos mágicos, como Psilocybe, contêm vários compostos, incluindo psilocibina e psilocina. Barbara Bauer, da Psychedelic Science Review, sugere que os hormônios femininos podem adicionar complexidade à interação desses compostos nos receptores, ressaltando o conceito do “efeito entourage”.
Essas descobertas ecoam relatos de um artigo de 1957 publicado no jornal de língua espanhola La Semana Médica. “Esses casos sugerem que psicodélicos clássicos, como LSD, psilocibina, ayahuasca e mescalina, podem provocar alterações notáveis na função menstrual”, escrevem Gukasyan e Narayan. “Suspeitamos que esses efeitos ocorram ao longo do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, devido ao seu mecanismo compartilhado de agonismo 5-HT2A ou agonismo parcial.”
Apesar da valiosa informação fornecida por relatórios anedóticos, é fundamental realizar estudos mais rigorosos para compreender de forma abrangente a dinâmica da interação entre psilocibina e ciclo menstrual, assim como suas possíveis implicações terapêuticas. Experimentos controlados, explorando os efeitos da psilocibina em diferentes estágios do ciclo menstrual, são cruciais para elucidar como as flutuações hormonais podem influenciar as experiências psicodélicas em níveis subjetivos e objetivos.
Fontes: Taylor & Francis Online, psychedelic.support e The Microdose