A dor crônica está entre as principais causas de incapacidade em todo o mundo, com até 20% da população global convivendo com dor crônica. A terapia assistida por psicodélicos foi recentemente considerada eficaz no tratamento de uma série de problemas de saúde mental, incluindo depressão, e historicamente foi considerada útil no tratamento da dor.
A dor crônica é definida como dor que dura mais de três meses e pode permanecer mesmo que a lesão original tenha cicatrizado formalmente. Condições comuns de dor crônica incluem dor lombar crônica, dor de cabeça e dor crônica generalizada.
Viver com dor crônica tem um impacto significativo na capacidade de trabalho de uma pessoa, resultando em elevados níveis de perda de produtividade e custando alto valor à economia do Estado.
As implicações sociais da dor crônica também são consideráveis; mais de metade dos pacientes com dor relatam que a sua condição os impediu de ver a família e os amigos e que a sua dor contribui para uma ansiedade social significativa.
Aqueles que vivem com dor crônica relatam sentir-se incompreendidos e invalidados. Isso destaca a necessidade de comunicação intencional nas fases iniciais da investigação para garantir um design criterioso que priorize as necessidades específicas das pessoas com dor crônica.
As diretrizes atuais recomendam intervenções farmacológicas, como anti-inflamatórios não esteróides (AINEs), opioides fracos e antidepressivos ou anticonvulsivantes off-label. Os tratamentos de segunda linha passam para procedimentos invasivos, como neurocirurgia, neuromodulação, bloqueios nervosos e denervação por radiofrequência.
No entanto, permanecem vários sintomas, além dos medicamentos existentes provocarem efeitos secundários indesejados e podem criar dependência. O uso prolongado de opiáceos, por exemplo, está ligado à dependência e contribuiu diretamente para a atual crise internacional de opiáceos.
As intervenções convencionais, tanto farmacológicas como invasivas só são eficazes em até 80%, deixando cerca de 1 em cada 5 pacientes sem alívio da dor. São tratamentos que negligenciam ou não abordam adequadamente o impacto psicológico das condições de dor crônica, levando a um número crescente de pessoas que procuram tratamentos alternativos.
Usadas em combinação com apoio psicológico, as drogas psicodélicas, como: dietilamida do ácido lisérgico (LSD), psilocibina (o componente psicoativo dos cogumelos mágicos) e dimetiltriptamina (DMT) parecem exibir efeitos terapêuticos promissores em condições como a depressão, dependência e ansiedade no final da vida.
O perfil de segurança dos psicodélicos está bem estabelecido, como sendo em grande parte fisiologicamente benigno, embora períodos psicologicamente desafiadores sejam comuns durante experiências agudas.
O interesse no uso de psicodélicos para tratar dores crônicas pode ser terapeuticamente útil, especificamente para a dor oncológica, dor do membro fantasma, no tratamento de dores de cabeça intratáveis, como enxaqueca e dores de cabeça em salvas.
O principal mecanismo de ação dos psicodélicos clássicos é através do receptor de serotonina 5-HT2A, que é parte integrante da dor inflamatória. Os psicodélicos reduzem a inflamação através dos efeitos posteriores do agonismo do 5-HT2A e podem resultar em respostas de dor central dessensibilizadas. Os efeitos agudos dos psicodélicos também podem contribuir para uma resposta analgésica, reorientando a atenção das sensações desagradáveis para percepções alteradas.
A medicação psicodélica cresceu em popularidade nos últimos anos, representando 14,8% do uso auto-relatado de substâncias psicodélicas e o uso de LSD pela primeira vez aumentou dez vezes, em 10 anos, em adultos com mais de 26 anos. Os métodos de utilização variam desde a toma semi-regular de doses subperceptíveis, conhecidas como “microdosagem”, até sessões isoladas de doses elevadas que emulam contextos clínicos para abordar preocupações de saúde mental.
Com o uso de psicodélicos clássicos, houve variação considerável nas substâncias, doses, frequência de uso e longevidade dos efeitos relatados. As substâncias utilizadas variam, sendo as mais relatadas os cogumelos contendo psilocibina e os bons resultados ocorreram, em grande parte, produto de tentativa e erro, especialmente no que diz respeito à substância e à dose.
Em geral, houve significativa melhoria na qualidade de vida das pessoas, percebida principalmente, no aumento da função, independência, energia e capacidade de movimento, além de melhoras no desempenho cognitivo, implicando no bem-estar geral.
A construção psicológica da incorporação de psicodélicos destaca a conexão mente-corpo e sugere que fenômenos subjetivos, incluindo sentimentos e comportamentos, são fundamentalmente informados somaticamente. As mudanças de perspectiva descritas durante a experiência psicodélica aguda, muitas vezes, persiste por mais de 2 meses.
O reenquadramento positivo das relações das pessoas com sua dor crônica, após o uso de psicodélicos, conduz a novas perspectivas de esperança, capacitação e otimismo, associada a analgesia duradoura.
Referências
BORNEMANN, Julia et al. Self-medication for chronic pain using classic psychedelics: a qualitative investigation to inform future research. Frontiers in Psychiatry, v. 12, p. 735427, 2021.